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A MOça do cavalo bRanco

Moça do cavalo branco,

Não, você não veio à cavalo. Veio de patins e isso sim me surpreendeu. Porque era bobo, inocente, desajeitado. Mas eu não, eu sou reta, exata, organizada. Então me diz: eu te vejo, tu olha pra mim. Meu olhar de superioridade te diminui e tu responde com olhos baixos, quase pidões, pedindo piedade talvez e um pouco de calma, que é pra mostrar que tu vale a pena.

E o que faço? Eu tenho escolha? Não, não tenho, porque escolhi que daria uma chance pra mim mesma outra vez e isso implica dar chance a você também. Mesmo porque todo mundo sabe que só o tempo resolve as coisas do coração e gostar de você seria algo que levaria tempo, até então normal porque a vida é assim e assim sendo eu me conformei.

O conformismo é parte da vida real. Ele que diz que a infância recheada de filmes disneyanos é só um adiamento da inevitável verdade que vem depois. Essa verdade é: não existe tempo hábil na agenda para amar. O trabalho te consome, a família te consome, a rotina te condena. E você sonha trabalhar com o que gosta e ser feliz com isso e por isso mesmo que se diz sonho e não vida.

Mas é sobre você, né. (tenho que lembrar que nem sempre tudo é sobre mim). Todos os livros-músicas-filmes me levaram a crer que você era o maior clichê multiplicado por 2². A paisagem no sexo, o pôr-do-sol sincronizado com o orgasmo e todo o filtro de fotografia que se instala na retina me levaram a crer, menina, que talvez eu tivesse aprendido com os erros do presente e esse era um relacionamento bacana, estável, adulto. Todos esses adjetivos são meus.

Mas daí menina que eu não vi que na verdade eu também estava enganada. Que por meu mundo ser meio acidzentado, eu não vi que seus patins eram cor de rosa. Que seu céu era cor de rosa, que seu iphone não era escolha, era status. Daí eu entendi.

Não, suas bobagens não eram charme, não sua aparente manhosidade com a vida não era escolha, não eu não gostava de você, mas sim, eu tentei e se eu tentei eu quis ficar, mas você também então que não, eu não vim num cavalo branco, e não eu não sou a princesa encantada da Disney, não eu não vou te salvar da chatice dos teus dias mas também aqui estou eu de braços abertos; pra quê? Também não sei, de braços abertos podem vir abraços, facadas nas costas, choradas em ombros, e o que mais puder, mas só o que me veio foi cansaço porque você não se jogou nos meus braços abertos.

Você, menina, foi mimada e me descartou com um brinquedo fora de moda, mas tudo bem, assim é a vida e não te obrigaria a gostar de mim. Fico mesmo chateada porque, bem porque, ora, se eu pude me abrir, penso então que você poderia também. Então eu vejo que no final, sim, é tudo sobre mim sim. E sim, eu repito as palavras porque a vida insiste em repetir os erros e eu insisto e repito em jogar minha culpa pra todos os lados porque não, eu não quero continuar sendo vilã da Disney, vilã barata do agreste, vai ver que por esquecer de cavalos brancos eu agora me contente com burros e éguas que ache por aí.

Pode ser também que por mentir pra mim mesma eu não veja e por não vê eu tropece e por tropeçar eu vivo me apoiando em outro alguém.

Moça do cavalo branco, eu queria me despedir e fazer uma despedida triunfal, mas veja bem, você roubou minhas vírgulas e coesão e coerência e não dá pra se despedir de quem já não se ver no horizonte.

Eu diria “boa sorte” ou “passar bem”. Mas eu não estaria sendo sincera.

De Castro.