afogar

Ao som de: Maré Alta

Meu relacionamento começou a ruir quando eu perdi minha aliança no mar. A onda me arrebatou e se arrebentou em mim. Eu caí e veio a humilhação, e a aliança se foi.

Todos os mares são os mesmos? A água é plural? Pergunto-me isso pois no mar fiz oferenda pra Iemanjá não nos separar. Mas acho que os nós de nós eram frouxos. Frouxos como o seu sorriso costumava ser.

(Será que a minha aliança estava frouxa também?)

Lembra que você estava de onda quando eu disse que ia pro mar? Será que eu sou lua e regulo tuas marés? Que te puxo e te empurro e bailamos nessa dança cósmica? Ou seria dança cômica? Dizem por aí que a tragédia e a comédia são irmãs siamesas. Como se fosse uma mesa, você de um lado, eu do outro.

(Afinal, quem virou a mesa?)

É sempre assim, não é? Eu do outro lado da estação vendo você entrar num trem que não é meu, que não me leva a lugar nenhum. E eu, que seria capaz de correr atrás do trem pra te alcançar, me pergunto porquê não corri.
Talvez a estação tenha chegado ao fim. A estação onde eu sou o vento que balança teus cabelos e teu corpo, te moldando, assim como o mar molda os rochedos, o mesmo mar que levou minha aliança…

É um ciclo. São coisas imutáveis que te giram e te fazem perder a direção. Você gira como a roupa tua esquecida em minha casa que agora é lavada na máquina. Eu já girei em teus braços também, acho que talvez tenha te virado do avesso, vai ver sou tornado. Tornando do dia na praia um perigo previsto na tv. Qual seria a minha escala?

Será que eu não medi a minha força? Olha no meu olho, que olho de furacão é calmo, e fica em silêncio. Eu falo muito e as palavras são as borboletas que causam tornados com o bater das asas, são as que beijam as flores, e são as que voam no meu estômago.

Dentro do meu âmago, eu me pergunto: será que o mar é plural? E eu? Será que minha singularidade vem em companhia?Ouvi dizer que o mar devolve tudo que não pertence a ele. Por isso acho que minha aliança não volta mais. Ela vai ficar em mares e marés. Vou mergulhar no meu oceano e esperar ser embalada pelas ondas mais uma vez. Vez ou outra apareço na costa. E de lá você vai pensar ter ouvido um silêncio diferente. Sou eu soprando o vento, dizendo tudo quebrei o ciclo. Que o sal do mar salga as feridas e sutura os ferimentos. E você vai embora buscar sua roupa na máquina; eu espero que você ache um amor esquecido em um dos bolsos e se deixe mergulhar nas lágrimas que são gotas do meu mar.

Deixe um comentário